Por Marcelo Gentil
Norberto Odebrecht nasceu em outubro de 1920. Sempre foi um homem discreto, avesso às homenagens, que preferia o trabalho às celebrações. Entretanto, o centenário de seu nascimento é um bom motivo para refletirmos sobre o legado que deixou.
O êxito nos negócios e a trajetória do Grupo Odebrecht, que teve origem na pequena construtora que fundou na Bahia aos 24 anos, são motivos suficientes para que seja visto como um líder empresarial ousado, competente, trabalhador, visionário e sensível.
São atributos incontestáveis, sem o quais não teria feito o que fez. Porém, acima deles está o que o distinguiu de forma absoluta: ser um educador humanista à frente do seu tempo, que acreditava nas pessoas e que, com elas, queria compartilhar sonhos, desejos, riquezas, projetos e crenças.
Dentre os sonhos, o que predominava sobre todos os demais era a construção de uma organização empresarial que funcionasse como uma sociedade de confiança: sem controles e sem hierarquias. A hierarquia, ele dizia, está no cliente, não na diretoria da empresa. Os controles seriam dispensáveis para pessoas que assumem responsabilidades, cumprem seus deveres e alcançam seus resultados por adesão a princípios, valores e crenças, não por obediência, coerção ou medo impostos por normas e regras.
Baseado nessas convicções, ele concebeu uma estrutura horizontal para sua companhia – ideia que acaba de chegar às agendas dos especialistas que começam a pensar na (re)organização do mundo pós-pandemia.
Precisamos mudar – deixando de ser verticais para horizontalizar as relações na família, na empresa, na sociedade é o que psicanalistas e sociólogos estão a propor 70 anos depois de Norberto conceituar essa forma de organização e praticá-la integralmente. O mundo não funciona em pirâmides, costumava dizer: “Essa forma contraria as leis da natureza.”
Humanista e não raras vezes utópico, entendia que a responsabilidade primordial do empresário é transformar o mundo, respeitando a natureza, tendo o ser humano como o centro de todas as coisas, repartindo com a comunidade parte dos resultados que a atividade empresarial gera – visão que se configura em iniciativas concretas de ação social que liderou, mais de 50 anos atrás. Em 1965, criou a Fundação Odebrecht, uma instituição pioneira no Brasil e que tem uma tecnologia social com potencial de escalabilidade em comunidades com baixos índices sociais Brasil afora. Sensível às artes, sempre apoiou a cultura, na Bahia e onde o Grupo Odebrecht esteve e está, desde 1959, com o primeiro patrocínio cultural.
Na década de 1970 ele definiu: pessoas não são recursos. Recurso é o que se usa e se consome. Pessoas são pessoas, não são utensílios. No jargão da administração de “recursos humanos” no Brasil essa mudança de conceito só foi adotada no século XXI.
Quando a palavra sustentabilidade ainda não fazia parte de nosso vocabulário, ele apontava em seus escritos mais remotos: “O rumo de nossa empresa será Sobreviver, primeiro; depois Crescer, para, enfim, se Perpetuar, o que pressupõe ser sustentável ambiental, social e economicamente.”
Uma equação simples, mas só possível de ser concebida por alguém capaz de ver antes, ver longe e se antecipar às mudanças que o futuro sempre nos reserva – como ele sempre fez. Como dizia Norberto Odebrecht: “Até aqui o passado, vamos ao futuro.”
Marcelo Gentil, Comunicação da Novonor S/A.