Novonor S.A.

Por Marcelo Gentil

Nos últimos anos, o termo compliance passou a figurar entre os mais presentes nas organizações brasileiras, sejam elas públicas ou privadas. É esperançoso ver que o país vem experimentando um movimento sem precedentes na luta contra a corrupção, esse fardo que nos atrasa e afasta do desenvolvimento sustentável. Apesar dos avanços experimentados – e também dos retrocessos, especialmente com o debacle provocado na engenharia nacional, um orgulho brasileiro – um fato me chama atenção: o superficial espaço ocupado pela comunicação na implantação e sustentação dos programas de compliance e integridade.

A frase que mais se lê nos livros da área, geralmente títulos jurídicos, é que compliance é cultura. Verdade, mas não só. Compliance de fato é cultura e cultura é comunicação. Cultura, na prática, é aperfeiçoamento do ser humano, evolução. Comunicação e cultura, portanto, são recursos inseparáveis. Reduzir o papel da comunicação a algo complementar como “informar e treinar” é não compreender a revolução relacional que vivemos hoje, fortemente influenciada pela transformação digital.

Tenho observado um certo movimento de “comoditização do compliance”, onde pacotes de implantação são vendidos em sites como se fossem produtos de prateleiras, minimizando a cultura empresarial e desprezando a importância do planejamento estratégico de comunicação. É a partir de um diagnóstico bem feito, isto é, de uma leitura minuciosa do micro e do macroambientes, que se definirá a amplitude do programa. Sem isso, ele será um mero faz de contas organizacional.

Temo que o foco excessivo no instrumental em detrimento do comportamental, que é a experiência em si, acarrete práticas pouco exitosas em curto espaço de tempo, a exemplo do que vem acontecendo no negócio do futebol. Me parece inadequada, por exemplo, a afirmação que existe uma “comunicação de compliance”. Existe comunicação e comunicar é diferente de informar. A dimensão informativa é apenas uma pequena parte de um arcabouço multidimensional e multifacético que é a comunicação quando tratada de forma profissional. Compreendendo isso, empresas perceberão que é através da transformação mútua que avançaremos como sociedade, alterando a realidade dentro e fora do ambiente empresarial. Insisto: trata-se de uma questão de conceitos e não de ferramentas.

É chegado o momento de alçar a ética ao posto que ela merece, sendo intolerante (a palavra não é boa, mas serve para o objetivo) com a corrupção, inclusive aquela considerada “leve” e que alimenta uma cultura social permissiva, que independe de classe social. É preciso mais higidez, ampliando o espectro dos programas de compliance dentro de uma perspectiva de transformação social efetiva, aliando o tema ao propósito das organizações. O desafio, portanto, é edificar uma cultura de integridade a partir da comunicação.

A comunicação é o oxigênio que dá vida ao compliance dentro das organizações e ela precisa ser feita sem amadorismos. Em resumo: diga-me como é a sua comunicação e lhe direi como é o seu programa de compliance.

Marcelo Gentil, Comunicação da Novonor S/A.